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O projeto gira em torno do universo de Paradjanov, da sua obra e da sua atribulada e trágica vida, marcada por dois acontecimentos:

 

1) A sua primeira esposa foi violentamente assassinada pelos seus irmãos, pois ela era muçulmana e Paradyanov era ortodoxo, e a família nunca a perdoou.

 

2) Svetlana Ivanovna, segunda esposa do autor, famosa atriz georgiana, morreu aos 40 anos de forma prematura.

Este homem, com a vida envolta em tragédias, sempre com um sorriso enigmático, mesmo nos momentos mais graves de sua existência, é o ponto de partida para o novo espetáculo da ASTA, que marca também os 20 anos de carreira do ator Sérgio Novo, comemorados em 2017.

Paradjanov sofreu perseguições e torturas por parte das autoridades soviéticas, mas sempre respondeu às infundadas acusações de que foi alvo, com: “A minha vingança é o amor”.

Após a morte de Svetlana Ivanovna, Paradjanov construiu vários chapéus, estes chapéus eram para as personagens que a sua esposa não pode representar devido à sua morte prematura. E é esta incrível coincidência que está na origem deste projeto, baseado no grande artista arménio, desconhecido da maioria dos portugueses.

A partir da história real, construímos uma história ficcionada tendo por base o universo de Shakespeare, e três das suas personagens femininas, que poderiam ter sido representadas por Svetlana Ivanovna, tendo como acessório um dos tais chapéus.

Lady Macbeth, Desdémona e Julieta, personificando três gerações e três conceções de mulher diferentes. Antagónicas e complementares ao mesmo tempo, e para a nossa história muito interessantes.

Não temos intenção fazer uma reconstrução arqueológica em torno destes personagens, antes dotá-los de uma nova personalidade de acordo com o tempo em que vivemos.

Sendo Paradjanov um transgressor de normas criativas, sociais e ideológicas, tanto ao nível formal como estético e conceptual, dotaremos os personagens femininos com uma nova abordagem, permitindo-os serem vistos de uma ótica mais de acordo com as problemáticas da mulher moderna.

Queremos que a proposta artística sirva para esta nova abordagem de redimensionamento das circunstâncias da vida destas três mulheres. Que dignifique a sua condição de vítimas de uma sociedade patriarcal, em que o papel da mulher não deixa de ser secundário, e, mesmo assim, desencadeou a tragédia nos textos que nos servem de base, apenas porque são mulheres.

O protagonista da nossa história será Paradjanov, submetido a intermináveis interrogatórios, com acusações inauditas sem precedentes e que hora provocam o riso ou descrença na lei e na justiça.

Temos por um lado a repressão permanente e as sucessivas detenções, e por outro, o seu amor inesgotável à vida, às esposas e às artes. Do cinema à escultura, da pintura à poesia, criando um universo único, excecional e novo. O espetáculo será uma espécie de monólogo multimédia coreográfico:

 

MONÓLOGO, já que estará apenas um ator em palco, mas o trabalho não será desenvolvido como um trabalho unipessoal. O intérprete dará vida a Paradjanov, que se encontra numa espécie de limbo onírico, umas vezes sonho, outras real, mas sempre poético. O espetáculo não pretende ser uma biografia sobre o cineasta, trata-se de uma recriação ficcional de uma possível história, que emana de uma das suas criações.

MULTIMÉDIA, porque o vídeo dará vida às três personagens femininas que vamos pedir emprestadas às tragédias de Shakespeare. Esta opção pelo vídeo dá-se porque esta ferramenta nos situa num outro nível comunicativo, usando uma linguagem que reforça o plano do onírico, em que as personagens se movem como fantasmas de um futuro possível, mas que nunca se tornará realidade. Este entorno multimédia também permite dimensionar a história a meio caminho entre o teatro e o cinema, onde vamos usar o estilo vanguardista que o autor utiliza nos seus filmes. Teremos também em conta a incursão do cineasta ao cinema mudo nas cenas que ocorrem como tableaux vivants e o quão poeticamente e eficazes são nas suas obras, como no caso das maravilhosas cenas estáticas de Sayat Nova.

 

COREOGRÁFICO, porque pretendemos alcançar uma dimensão que caracteriza a direção do mestre em todos os seus filmes, e que se desenvolve com estrema precisão milimétrica, onde o gesto e a linguagem corporal alcançam novos significados metafóricos.

As personagens femininas serão caracterizadas e vestirão como os personagens de Sayat Nova, e o ator será acompanhado por imagens dos seus filmes e durante o espetáculo.

O espetáculo é desenvolvido em momentos distintos, com o processo criativo a decorrer em ambiente de residência artística em Santander, Espanha, e na Covilhã, Portugal. Paralelamente à investigação em torno da vida e obra de Paradjanov, é escrito o texto, desenvolvem-se os ensaios e são rodadas as várias cenas utilizadas no espetáculo, que decorrem em Erevan, na Arménia e na Covilhã, Portugal.

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